“O Câncer não espera”: campanha é lançada em Francisco Beltrão

Ação envolve outras entidades da cidade

Foi lançada na manhã desta terça-feira, 6 de julho, com temperatura mais amena, se comparada aos últimos dias de frio intenso em Francisco Beltrão e região, o lançamento da campanha de conscientização “O câncer não espera”. O evento aconteceu na sede da Associação Empresarial (Acefb), durante o Café Acefb Tech. A realização da campanha é do Ceonc Hospital do Câncer com apoio da Acefb, Associação Médica do Paraná (AMP Francisco Beltrão), Núcleo da Mulher Empresária e Grupo Beltronense de Prevenção ao Câncer Mão Amiga.

O tema da campanha é pertinente, visto que com a pandemia da Covid-19, centenas de pessoas deixaram de procurar consultas e realizar exames preventivos de uma das doenças que ainda mais matam no mundo, o câncer.

“Agradeço pelo convite porque essa é uma ação de utilidade pública. Antes da pandemia, tínhamos entre 120 e 140 atendimentos por manhã no Ceonc. No decorrer da pandemia, os atendimentos caíram para 30, 40 por manhã. A consequência foi de que o número de casos avançados da doença em pacientes aumentou significativamente, alterando as chances de cura nas pessoas”, destaca Dr. Janoário de Souza, diretor clínico do Ceonc e médico oncologista. “O impacto disso, a médio e longo prazo, vai ser relevante”, completa.

Dr. Gustavo Vicenzi, vice-presidente da Acefb para Assuntos de Saúde, mediou o encontro. Ele lembra que “em algumas áreas, como a ortopedia, até dá para adiar uma consulta ou um quadro de tendinite ou bursite”.

Conforme Dr. Janoário, o número de habitantes em Beltrão e região Sudoeste aumentou significativamente nos últimos anos. “Somente na microrregião, compreendida por 27 municípios da 8ª regional de saúde, chegamos ao número de 350 mil habitantes. Consequentemente o número de casos de câncer aumentou. Por outro lado, as formas de diagnóstico da doença, bem como a compreensão dos diagnósticos, também melhoraram, aumentando as chances de cura nos pacientes”.

Os tipos de câncer mais comum

Dr. Janoário afirma que os principais tipos de câncer na região são os de pele, grande parte porque a população é basicamente de origem italiana, com pele clara, sendo mais propensas à doença. “O segundo tipo mais comum é o de próstata. Nas mulheres, o câncer de mama é o mais recorrente. Mas uma preocupação, no qual estamos fazendo um estudo junto ao laboratório Roche, é para o diagnóstico precoce de câncer de colo retal. Temos aqui na região vários casos, inclusive com diagnóstico metastático ou avançado. Outros tipos de câncer, como os de pulmão, também aparecem como os mais frequentes”, informa Dr. Janoário.

E a palavra “câncer” geralmente assusta as pessoas. O indivíduo com diagnóstico positivo da doença pensa que o mundo vai acabar. Com a vinda da pandemia, foi uma desculpa a mais para não procurarem um médico. “Elas não vão para não terem diagnóstico da doença. Ou pensam que podem ter a doença, aí não vão consultar, o que é errado”, salienta Dr. Janoário.

Dr. Gustavo considera extremamente grave, por exemplo, quando uma mulher vai colocar uma blusa e nota que tem um carocinho no seio. “Com a pandemia, ela prefere esperar para buscar atendimento. A mensagem é que a população não espere, que fique atento as alterações de pele, perda de peso, febres e dores”.

Desde o início da pandemia, o Ceonc não atende pacientes diagnosticados com Covid-19 porque lá existem os pacientes oncológicos sem defesa no organismo por conta das sessões de quimioterapia que realizam. Dr. Janoário explica que, entre 7º e 10º dia de quimioterapia, o paciente vai apresentar 100, 200 leucócitos (glóbulos brancos de defesa do organismo). “Uma pessoa normal tem entre 5 e 10 mil leucócitos.  Por isso que os pacientes de câncer que entram no Ceonc apresentam teste negativo da Covid justamente para preservar os demais pacientes”.

Constatação

Segundo o Dr. Janoário, a faixa etária de mulheres diagnosticadas com câncer de mama vem caindo nos últimos anos no Brasil. Ele recorda que, há 26 anos, quando se formou em Medicina, o número de casos era alto em mulheres antes dos 50 anos de idade. “Era bem comum os casos em pessoas idosas. E hoje vemos pacientes abaixo dos 30 anos de idade com a doença. Por isso o autoexame é importantíssimo, se suspeitar que é um nódulo, a mulher deve fazer uma consulta médica”.

Outro fato relatado pelo médico é que há casos de agricultores e pessoas de pele branca em Beltrão e região que já fizeram mais de 30 cirurgias (retirada de lesões). “Em pessoas mais jovens, percebe-se que elas têm um cuidado maior com a pele, usam protetor solar, são mais conscientes com relação ao perigo da doença. Aqueles idosos, que há uns trinta anos não se cuidaram, estão sofrendo agora”.

Uma participante da reunião indagou quanto à questão genética, dos casos de câncer na família. Dr, Janoário volta 15 anos no tempo (em 2006).

Segundo ele, o ano foi um divisor de águas na oncologia. “Houve a partir daí o desbravamento do genoma humano. Descobriu-se o que cada gene faz em cada ser humano. Posso dizer que surgiu uma nova oncologia, com o desenvolvimento de novas drogas, e também com o advento da engenharia genética, com várias técnicas onde pode-se ‘recortar os genes’. Isso é o futuro. Se fizermos um histórico dos tratamentos de câncer, a primeira forma era a cirurgia, que consistia na retirada do tumor. Um exemplo era a retirada de mama [mastectomia]. Mas viu-se que não se chegava a cura da doença. Aí associou-se o tratamento com quimioterapia, onde houve um boom. A partir daí aumentou o índice de pessoas curadas, muito mais do que apenas com as cirurgias. E chegamos ao limite, quando associamos às radioterapias no tratamento. Agora chegamos a uma estabilização com o advento da engenharia genética e inserção de novas drogas para tratamento de pessoas doentes”.

Para Janoário, “não podemos confundir genética com hereditariedade. Todo câncer tem origem genética, mas nem todo câncer apresenta uma ação hereditária. Hereditário é tudo que eu tenho e passo para os meus filhos, ou tudo aquilo que veio dos meus pais e passou para mim. Isso pode ser detectado em exames, por exemplo, de câncer de mama”.

Rose Pedron, coordenadora do Núcleo da Mulher Empresária, perguntou: Qual o tempo certo para a mulher realizar o exame de mamografia? A gente faz a cada ano, mas sabemos de mulheres que faziam a mamografia todos os anos e mesmo assim, quando percebiam, estavam com o câncer em estágio avançado. Por que a doença se manifesta tão rápido se a mulher se cuidava?

“A Sociedade Brasileira de Radiologia preconiza exame de câncer de mama a cada dois anos. Como oncologista, eu acho muito tempo. Eu oriento as minhas pacientes realizarem o exame uma vez por ano. Não há o que nós possamos fazer nesse meio tempo. O que se pode trabalhar é o resultado da mamografia. Existem graduações no exame, que vão de 0 a 5. Numa paciente que apresentar o número 3, ela deve fazer a mamografia de 6 em 6 meses. Mesmo assim as datas não são fixas. Qualquer mudança no quadro clínico, como surgimento de algum módulo, ela deve voltar antes ao médico. Porque seis meses pode ser muito tempo”.

Dr. Janoário ressaltou que uma mulher só tem câncer do colo do útero se ela permitir que a doença se manifeste. “Por que hoje, diferente de 30 anos atrás, existem campanhas de prevenção. Naquela época, a principal causa era o câncer de colo do útero, e não a mama. Com as campanhas e exames, houve a diminuição do número de casos, e hoje é uma doença plenamente contornável”.  

Adesivos e redes sociais

A coordenação da campanha produziu 500 adesivos com orientações sobre como realizar o autoexame de mama. Eles serão distribuídos no comércio beltronense para incentivar às mulheres fazerem o autoexame enquanto utilizam os provadores de roupas das lojas. As redes sociais do Ceonc e da Acefb serão alimentadas com publicações que levem às pessoas a buscarem o tratamento precoce de câncer.

Vacina para os tipos de câncer?

“Vacina, propriamente dita, ainda não existe. Para o futuro tem estudo relacionados à engenharia genética, que é a reorganização dos genes. Sabe-se, portanto, que determinados tipos de vírus, como o HPV, ele tem uma relação direta com câncer de útero. Existem vacinas liberadas para adolescentes evitarem o contágio por esse vírus e consequentemente o desenvolvimento do câncer do colo do útero. Uma vacina que previna todos os tipos de câncer não existe, e penso que isso seja impossível. Porque o câncer é um nome genérico de um grupo de mais de cem doenças”, observa Janoário.

“Não podemos esperar a pandemia passar para buscar atendimento médico. Porque a pandemia veio para ficar, vamos ter que conviver com o vírus, que sofrerá novas mutações. Mas não podemos esperar para seguir vivendo. Vamos atrás de cuidar da nossa saúde”, completa.