HPV: vacinar é a melhor forma de evitar vários tipos de câncer

A imunização contra o HPV vai muito além de proteger crianças e adolescentes pelo Calendário Nacional de Vacinação, pois pode beneficiar adultos até 45 anos

Na luta contra o câncer, a prevenção continua sendo nossa maior aliada, e a vacinação contra o HPV tem se destacado como uma das ferramentas mais eficazes nesse combate. Disponível no Calendário Nacional de Vacinação desde os 9 anos de idade, a vacina protege contra infecções que podem levar a diversos tipos de câncer, incluindo o câncer de colo de útero, uma das principais preocupações oncológicas no Brasil. Também indicada para adultos até os 45 anos, a vacina se expande cada vez mais, ganhando reconhecimento como uma medida indispensável na proteção e na prevenção de vidas.

De acordo com a doutora Tariane Friedrich Foiato Manetti, cancerologista cirúrgica do CEONC Hospital do Câncer de Cascavel, a importância dessa vacina está no impacto direto sobre a saúde pública e individual, uma vez que o HPV é responsável por cerca de 99% dos casos de câncer de colo do útero. E vai além. O HPV também está relacionado a outros cânceres, como os de vulva, vagina, canal anal, pênis, cabeça e pescoço, e a vacinação reduz significativamente o risco dessas doenças. “O esquema vacinal começa ainda na infância como forma de prevenção para o futuro, pois o objetivo é eliminar a circulação deste vírus. Sabemos que as manifestações da infecção pelo HPV podem surgir em até dois anos após o contágio, mas também podem demorar até 20 anos para aparecer”, pontua.

Incentivar a vacinação contra o HPV é um dos maiores desafios no Brasil, que, gradativamente, vence a barreira da desinformação. Dados do Ministério da Saúde mostram que o País tem avançado significativamente na cobertura vacinal contra o HPV e está próximo de alcançar a meta de imunizar 90% do público-alvo, composto por meninas e meninos de 9 a 14 anos.

Em 2023, a vacinação aumentou mais de 42% em relação ao ano anterior, um crescimento expressivo no número de doses aplicadas, que passou de 4,3 milhões para mais de 6,1 milhões. O incremento foi especialmente notável entre os meninos, com um salto de 70%, embora as meninas ainda representem a maior parte do público vacinado, já que o HPV é o principal causador do câncer de colo de útero.
“É importante reforçar que, além do câncer de colo de útero, a infecção pelo vírus também pode causar câncer no pênis, ânus, boca e garganta. Como a principal via de transmissão do vírus é a sexual, imunizar também os meninos e os homens é fundamental”, reforça a médica.

Proteção ampliada
No SUS, a imunização quadrivalente (que protege contra quatro tipos do vírus, incluindo subtipos relacionados a lesões verrucosas e oncogênicas) é oferecida gratuitamente para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos em dose única desde o ano passado. Em clínicas particulares, a vacina nonavalente (que protege contra nove tipos do vírus) está disponível para todas as faixas etárias. Ela não é obrigatória e não faz parte do calendário do SUS.

Desmistificando a vacinação contra o HPV
Apesar de sua eficácia comprovada, ainda há dúvidas e mitos que cercam a vacinação. Alguns acreditam que ela pode incentivar comportamentos de risco ou que não é segura para crianças e adolescentes. Nada disso é verdade.

De acordo com a doutora Tariane, a vacina contra o HPV é segura, foi amplamente testada em estudos científicos e é recomendada pelas principais organizações de saúde do mundo. Além disso, ela não tem nenhuma relação com mudanças de comportamento sexual. “A vacinação contra o HPV na infância e adolescência é essencial para prevenir infecções no futuro, quando a vida sexual e reprodutiva começar. Trata-se de um cuidado com a saúde a longo prazo”, esclarece.

Mesmo em adultos que já tiveram contato com o vírus, a imunização continua sendo uma medida importante e indispensável para reduzir a circulação do vírus. “A vacina pode proteger contra outros tipos de HPV aos quais a pessoa ainda não foi exposta, oferecendo benefícios mesmo em faixas etárias mais avançadas”, detalha.

Mitos e verdades sobre o HPV
Mito: A vacina pode causar infertilidade.
Verdade: Não há evidências científicas que suportem essa afirmação; a vacina é segura e não afeta a fertilidade.
Mito: A vacina é desnecessária se a pessoa já é sexualmente ativa.
Verdade: A vacina é eficaz mesmo em pessoas que já tiveram contato com o HPV, pois ela protege contra outros tipos do vírus. Inclusive, a vacinação é incentivada mesmo quando o paciente já desenvolveu a patologia relacionada ao HPV, devido à ativação do sistema imunológico e seu treinamento.
Mito: A vacina causa doenças.
Verdade: A vacina contém vírus inativados ou proteínas do vírus, que não podem causar infecção.
Mito: A vacina é só para mulheres.
Verdade: Meninos e homens também devem ser vacinados para ampliar a proteção coletiva e prevenir cânceres relacionados ao HPV.
Mito: A vacina tem efeitos colaterais graves.
Verdade: Os efeitos colaterais são leves, como dor no local da aplicação, febre baixa ou dor de cabeça.

Compromisso com a saúde
A vacinação é um dos pilares mais eficazes na prevenção contra o HPV, mas há medidas adicionais e importantes para proteger a saúde e prevenir doenças relacionadas ao vírus. Conforme orienta a doutora Tariane, a educação sexual é fundamental para promover comportamentos saudáveis e informados, especialmente entre jovens, que são mais vulneráveis ao HPV. “O uso de preservativos durante as relações sexuais pode reduzir o risco de transmissão do vírus, embora não elimine completamente essa possibilidade”, orienta.

Ela também reforça a importância da realização de exames ginecológicos regulares, como o Papanicolau. Simples, o exame anual de prevenção ao câncer é capaz de detectar precocemente alterações cervicais que podem evoluir para o câncer, permitindo intervenções rápidas e eficazes. “Unir educação, exames preventivos e vacinação é a melhor estratégia para reduzir a incidência de cânceres relacionados ao HPV e garantir uma vida mais saudável”, finaliza Tariane.