Inimigo silencioso: você sabia que a obesidade é o segundo maior fator de risco para câncer?
04/03/2025 16:05 por CeoncDia Mundial da Obesidade (04/03) convida sociedade a refletir sobre a importância de prevenir o excesso de peso em todas as idades, mas especialmente entre as crianças, para garantir um futuro mais saudável

Embora a relação entre alimentação equilibrada, exercício físico e saúde seja amplamente discutida, muitas pessoas ainda associam hábitos saudáveis apenas à manutenção da aparência. O que frequentemente se ignora é que a obesidade não é apenas uma questão estética, mas uma condição séria, diretamente ligada ao aumento do risco de diversos tipos de câncer. Esse fator de risco só perde para o tabagismo, a principal causa de câncer evitável no mundo.
“A obesidade é uma das maiores ameaças à saúde pública do século XXI, e seu impacto no desenvolvimento de câncer é alarmante. O excesso de peso ativa um processo inflamatório crônico, desregulando hormônios essenciais como a insulina, o estrogênio e o IGF-1, fatores diretamente associados ao aparecimento de cânceres em diversas áreas do corpo, como esôfago, pâncreas, fígado, mama, intestino, entre outros”, explica o doutor Fernando Barbieri, oncologista do CEONC Hospital do Câncer de Cascavel.
Além de aumentar o risco de diversas neoplasias, a obesidade está relacionada ao desenvolvimento de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e hipertensão arterial, o que agrava ainda mais o quadro clínico dos pacientes e dificulta o tratamento. “Como acelera a proliferação celular, o excesso de peso favorece o crescimento de novos vasos sanguíneos que alimentam o tumor, aumentando a possibilidade de metástases”, detalha o oncologista.
Problema crônico de saúde pública
A obesidade tornou-se um dos maiores desafios de saúde pública, sendo amplamente discutida, especialmente após 2015, quando a Federação Mundial da Obesidade (WOF) estabeleceu o 4 de março como o Dia Mundial da Obesidade, com o objetivo de alertar sobre os impactos do excesso de peso.
Contudo, poucas campanhas de prevenção associam diretamente a obesidade ao risco de câncer. Esse atraso tem causas multifatoriais, mas a mudança do foco da luta contra a fome para a luta contra a obesidade é um dos fatores.
No passado, segundo Barbieri, a desnutrição era mais prevalente, e com o avanço industrial e a globalização, o consumo de alimentos processados e o sedentarismo aumentaram, contribuindo para o crescimento de doenças crônicas e da obesidade.
“É urgente intensificar campanhas de conscientização sobre os danos causados pela obesidade, principalmente relacionando-a nas iniciativas anuais de prevenção ao câncer”, ressalta o oncologista.
Um alerta para o futuro de nossas crianças
Além dos riscos para os adultos, a obesidade infantil é um reflexo preocupante dessa mudança de hábitos. O Ministério da Saúde e a Organização Panamericana da Saúde indicam que 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos estão acima do peso, assim como 7% dos adolescentes de 12 a 17 anos.
O aumento dessa condição nas próximas gerações é preocupante, pois hábitos alimentares formados na infância têm grande dificuldade de serem modificados na vida adulta.
“A educação para hábitos saudáveis deve começar na infância. A crescente falta de atividade física – devido ao aumento do uso de telas e outros passatempos sedentários – tem criado um ciclo vicioso que compromete a saúde das próximas gerações”, alerta Barbieri.
Emagrecer reduz estes riscos
De acordo com estimativas da Abeso, em 2025, 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estarão acima do peso, sendo 700 milhões com obesidade. Os números reforçam a importância da prevenção.
Estudos demonstram que a perda de peso, seja por meio de intervenções como a cirurgia bariátrica ou mudanças no estilo de vida, pode reduzir significativamente o risco de desenvolver câncer.
Pesquisa publicada no JAMA (The Journal of the American Medical Association), por exemplo, acompanhou 30 mil adultos obesos por uma década e constatou que aqueles que passaram por cirurgia bariátrica tiveram um risco 32% menor de desenvolver a doença.
Outro estudo publicado pelo Journal of the National Cancer Institute mostrou que a perda de peso nas mulheres acima de 50 anos reduziu as chances de câncer de mama.
“E o British Journal of General Practice também revelou que a perda de peso, mesmo sem uma explicação aparente, está associada a uma diminuição do risco de até dez tipos diferentes de câncer. Esses resultados reforçam a importância da manutenção de um peso saudável para a prevenção de doenças”, conclui o doutor Barbieri.