Malefícios do cigarro vão além dos pulmões

Realizado no dia 31 de maio, Dia Mundial sem Tabaco ganha relevância

O tabaco continua sendo uma das principais ameaças à saúde global, resultando em mais de 8 milhões de mortes anualmente em todo o mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, em média 443 pessoas perdem suas vidas diariamente devido ao tabagismo. É crucial entender que os riscos associados ao cigarro vão muito além do câncer de pulmão, como se imagina.

A doutora Paula Soares, radioterapeuta do Hospital CEONC, em Cascavel, destaca que o tabagismo afeta todo o corpo, não apenas os pulmões. As mais de 7 mil substâncias químicas presentes no cigarro podem desencadear uma variedade de doenças graves e oncogênicas, como câncer de cabeça, pescoço – incluindo nariz, garganta e boca com feridas ou nódulos que não cicatrizem, mudanças na voz – câncer de bexiga, de colo uterino e pâncreas, entre outros, além de potencializar doenças como enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares, entre outras.

“Os efeitos do tabaco são devastadores no organismo e na pele, causando envelhecimento precoce. Além disso, a nicotina é encontrada na saliva, no suco gástrico, no leite materno, no músculo esquelético e no líquido amniótico”, detalha.

Para os fumantes passivos também há um sério risco à saúde, especialmente para o câncer de pulmão, devido à inalação da fumaça alheia, além de infarto e doenças respiratórias. Os efeitos prejudiciais do cigarro são tão severos, que persistem mesmo após parar de fumar; e entre os pacientes em tratamento, que continuam dependentes do tabaco, há risco aumentado de complicações.

Rastreamento precoce
Em relação ao câncer de pulmão, estudo divulgado esta semana pela Fundação do Câncer aponta que o tabagismo é responsável por 80% das mortes no Brasil. Caso o atual padrão de consumo de tabaco continue, a incidência desse tipo de câncer deve crescer 65% e a mortalidade 74% até 2040.

“Esses números reforçam a importância do rastreamento precoce na detecção e tratamento eficaz do câncer de pulmão”, afirma Paula.

A American Cancer Society recomenda o rastreamento anual por tomografia computadorizada para pessoas entre 50 e 80 anos que fumam ou fumaram nos últimos 15 anos, com um histórico de pelo menos 20 maços/ano.

“É uma ferramenta vital para aumentarmos significativamente as chances de detecção precoce e, consequentemente, chegar a um tratamento bem-sucedido e com chances de cura”, reforça a radioterapeuta.

Cigarro eletrônico, novo desafio
O Brasil é exemplo em políticas públicas de combate ao cigarro. Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição realizada em 1989 pelo Programa de Controle do Tabagismo, por exemplo, apontou uma prevalência de 32,4% de fumantes no País. Mais de 30 anos depois, dados recentes revelam redução para 12,8% a prevalência de fumantes no País

“Temos uma política antitabagista robusta, construída ao longo das décadas que surtiu efeito, contudo, agora precisamos intensificar o alerta para os cigarros eletrônicos, que é um novo desafio”, diz Paula.

Mesmo tendo a fabricação, importação, comercialização, distribuição e propaganda de dispositivos eletrônicos proibida pela Anvisa, a ilegalidade atrai principalmente jovens, o que acende a luz vermelha. “É impossível achar que um produto que contém químicos não provocará mal algum”, alerta a doutora.

Escolha a saúde
Apesar dos esforços públicos em incentivar o abandono do tabaco, é uma decisão pessoal viver longe dele. Deixar de fumar é também um ato de amor com aqueles com quem se convive. “O tabagismo é a causa de morte mais evitável. É 100% evitável, mas requer uma escolha”, diz a médica.

Para quem opta pela saúde, existe apoio. O SUS oferece tratamentos gratuitos que incluem terapia medicamentosa e emocional. Em Cascavel, diversos programas de incentivo estão disponíveis nas unidades básicas de saúde, facilitando o processo de cessação tabágica.

“Com os recursos e o apoio certos, é possível deixar o hábito do cigarro e garantir uma vida mais saudável”, finaliza Paula Soares.